Ensaio por Valda Nogueira, Tuane Fernandes e Francisco Proner publicado na Revista Select em 2018.
Texto por Aline Valadão:
“O momento exato da saída de uma turma de bate-bolas geralmente é precedido por
uma intensa queima de fogos. Avisado pelas luzes e sons, o público começa a se aglomerar próximo ao local em cujo interior os bate-bolas se vestem, perfumam-se com essências especiais, cantam, dançam, entoam gritos de entusiasmo e se unem para rezar e pedir proteção para brincar o Carnaval de modo seguro, segundo as mais diferenciadas crenças.
Na sequência dos fogos, o funk da turma toca, retumbante. Há mais de uma década o ritmo dos bailes começou a ser incorporado às saídas dos bate-bolas. Em princípio, rivalizava com o samba e com as marchinhas de Carnaval, mas veio se tornando a base sonora exclusiva sobre a qual os compositores das turmas colocam as letras compostas para o seu grupo. A incorporação de novos elementos culturais à manifestação contemporânea das turmas de bate-bolas a caracteriza como uma prática cultural viva e aberta às negociações simbólicas. Trata-se de uma brincadeira que pode ser constantemente atualizada, conforme a iniciativa e a adesão dos próprios brincantes.
Após os fogos e o início do funk, o grupo dos bate-bolas ganha o espaço público e realiza suas performances. Pulando, dançando e correndo, vigorosos e provocativos, os fantasiados posam para fotografias, filmagens e interagem com a multidão. Após a saída, no decorrer do período carnavalesco, os bate-bolas de uma mesma turma circulam todos juntos.
Ser um bate-bolas atualmente representa mais do que uma simples diversão carnavalesca. Trata-se de pertencer a um grupo e de obter o poder de participar ativamente da definição dos aspectos significativos para esse grupo. Presenciando a saída de uma turma de bate-bolas e conhecendo os bastidores da elaboração da sua brincadeira, constata-se que eles encontram na coletividade os recursos para se estabelecerem no cenário carnavalesco carioca da atualidade.”