Gavião, por Tuane Fernandes. - Projeto em desenvolvimento
Nas paredes, o Gavião imenso sustenta a corrente que jamais será quebrada. O olhar tá fixo, as mãos pro alto e o grito sufocado se torna um só. Um bando inteiro feito de loucos grita e empurra os onze jogadores dentro das quatro linhas rumo à vitória. A mulher ajoelha e começa sua oração com os olhos marejados. Desconhecidos se abraçam e o rapaz beija o escudo estampado na camiseta. Na hora me lembro das narrações de Osmar Santos que traduzia todo o sentimento de um povo que se manifesta através de uma paixão alvinegra: “ Corinthians você é a alma desse povo!”. E você, Corinthians, enche de lágrimas os olhos dessa gente. Repara, o Corinthians é quase que um suspiro pra essa gente simples. E com a raíz na simplicidade e na luta social, nasce o time do povo! De Jorge vem a força. Salve meu santo guerreiro, Saravá!
E quem diria, surgiu no futebol um ideal, democracia!
Sócrates disse que o Corinthians é um estado de espírito. E mesmo que seja inexplicável tal devoção eu bato no peito e digo que a Ti, Corinthians, serei Fiel.
Deixo aqui as palavras do Renato Silva, um dos maiores corinthianos que conheci:
Carlos Drummond de Andrade, um dos maiores poetas brasileiros, em um famoso poema escreveu o seguinte verso: “Quando nasci, um anjo torto// Desses que vivem na sombra// Disse: Vai, Carlos! Ser gauche na vida”. Mesmo sem querer, o escritor tinha traduzido o sentimento de um povo, mas não qualquer povo.
Gauche é uma palavra francesa que significa esquerda, entretanto, no trecho, remete à diferença, ao diferente. Ser este povo realmente é diferente! Vemos o mundo com olhos apaixonados; diariamente recordamos nosso passado e sentimos um gigante orgulho dele. A diferença é que este orgulho não tem relação com luxo ou vitórias (valores tão consagrados atualmente); ao contrário, está na humildade, na dificuldade, no sofrimento de ser e continuar a construir a história deste povo.
Não escolhemos ser. Nascemos. Não há explicações. É o típico argumento que só sendo para entender. Por ironia, nosso povo tem apenas duas cores, mas aceitamos e aceitaremos todas. Sempre. Afinal, outra característica nossa é a defesa e o respeito à democracia. Não a inventamos, como fizeram os gregos antigos, mas a tornamos popular, alargamos sua potência, defendemos em momentos de ameaça. Assim, o nosso mundo é diferente, colorido apenas em preto e branco. E como diz o mesmo poema, a gente vai. Vai sem saber como, quando, quanto e o porquê. Mas vamos sempre. Vamos porque sabemos que o caminho é o mais importante e, também, porque nunca estaremos sós. Encontramos muitos dos nossos na jornada. Somos formados por doutores e por dores. Por casagrandes, mas também e, principalmente, pelas senzalas. Temos alma e arma, se precisar. Protegidos pelo santo guerreiro. Não temos os meios (nem os de produção), nem modos. Contudo, adoramos ser assim.
Curiosamente, neste mesmo poema, Drummond termina alertando que “Eu não devia te dizer”. Novamente concordo. Não devo mais dizer. Deve-se sentir este amor e esta loucura. Deve entender que nosso povo é mais que substantivo, adjetivo ou verbo. Nosso povo é tudo e é assim: Corinthians!