Cura, por Christian Braga, 2020

Os povos indígenas do Amazonas recorreram à relação com a natureza e o conhecimento tradicional da floresta para sobreviver diante da pandemia. Em 2020, a Covid19 atingiu o mundo inteiro e também chegou nas comunidades indígenas da Amazônia. O vírus percorreu os rios, contaminando e atingindo povos indígenas da região. Pela falta de estrutura hospital, muitos foram à óbito e muitos outros foram transferidos para Manaus, na capital do Amazonas, para serem atendidos, transportados através de avião ou de barco. Manaus, foi um dos estados mais impactados proporcionalmente em número de contaminados e mortos do país, chegando a enterrar os mortos em valas coletivas. A cidade concentrou toda a demanda dos municípios do Amazonas e diante dessa preocupação e por não ter a possibilidade de enterrar os mortos, os indígenas infectados nas comunidades negaram-se a ir para os hospitais, com medo da morte e partirem longe dos seus familiares. 

Em São Gabriel da Cachoeira a realidade foi diferente, na cidade mais indígena do Brasil que está localizada no extremo noroeste da Amazônia e na fronteira com a Colômbia, integra 23 povos indígenas, com suas diferentes línguas e culturas e que diante da pandemia se sentiram obrigados a criar maneiras de sobrevivência para combater o vírus. Assim, voltaram a ouvir os mais velhos e resgataram muito dos seus conhecimentos tradicionais, banhos, ervas, benzimentos, chás e também o contato espiritual com a natureza ajudaram no processo de cura destes povos. Dessa maneira, acreditam que conseguiram salvar a vida das populações indígenas da região onde quase todas as comunidades foram infectadas. A volta aos costumes curandeiros levou ao resultado inusitado de poucas mortes. Tal resultado coloca em dúvida a forma com que o estado brasileiro e a medicina ocidental lidou com a pandemia.