Pantanal, 2020, por Maria Magdalena Arréllaga

"O que acontece quando mais de um quarto da maior planície alagável com a mais alta concentração de biodiversidade do planeta queima em incêndios descontrolados? Desde o início do ano de 2020 o fogo se alastrou pelo Pantanal durante a pior seca já registrada na história. Regulado pelo pulso das águas em um sistema vital de rios que alimentam a bacia do alto Rio Paraguai, o Pantanal também sofre os impactos do desmatamento que se prolifera nos entornos do bioma no Cerrado e na Amazônia, pois é nessas regiões que nascem as águas dos rios que sustentam a vida no Pantanal. Enquanto o governo Bolsonaro ameaçava acabar com as operações de combate aos incêndios, grupos locais de voluntários, brigadistas e resgatistas se organizavam para combater os incêndios e socorrer animais na região.

Os impactos da seca e dos incêndios sentidos por comunidades locais pantaneiras também têm sido dramáticos. Para os Guató, povo originário do Pantanal, os incêndios devastaram mais de 90% do seu território na Baía dos Guató, localizada no Rio Cuiabá, Mato Grosso. Duas semanas depois dos incêndios terem pulado o rio, chegando das grandes fazendas no entorno da terra indígena, a liderança Sandra Guató lamentou: "Dói muito para um nativo ver o que está acontecendo com a natureza. Eu fico doente. Os pássaros não cantam mais. Não ouço mais o canto do aracuã. Até a onça que me assustava está sofrendo. Isso me dói. Agora só tem silêncio vazio. Sinto que a nossa liberdade se foi, que foi tirada de nós junto com a natureza que nós sempre protegemos.”
Desde julho de 2020 acompanho a situação no Pantanal, documentando os esforços de combate aos incêndios, impactos e recuperação. Colaborei com The New York Times em setembro e outubro para contar mais sobre a situação na região."